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Paraibano da Capital. Tocador de violão e saxofone, tenta dominar o contrabaixo e mantém, por pura teimosia, longa convivência com a percussão, pandeiro, zabumba e triângulo. Escritor, jornalista e magistrado da área criminal do Tribunal de Justiça da Paraíba.

PÉ FRIO

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publicado em 11/06/2025 ás 20h20

Durante muitos anos não acreditei em azar, talvez por tentar sempre fugir de todo e qualquer tipo de superstição. Mas, ao longo do  tempo, comecei a observar que essa falta de sorte existe mesmo. Pior ainda, parece que ela, quando elege um infeliz, gruda nele e não solta mais. Fica o sujeito condenado pelo resto da vida, a caminhar ao lado de sua, digamos, ausência de boa ventura.

Observei, também, que existe uma gradação nessa sina. Nem todo mundo amarga o infortúnio na mesma proporção e intensidade. Antes do azar propriamente dito, existe um degrau abaixo. É a popular “moleza” .  A moleza é menos grave. Por exemplo, se existirem 5 brindes para serem sorteados entre 6 pessoas, a que sofre de moleza certamente será aquela não contemplada com o mimo. Na sequência, comenta: “Eu sou mole mesmo, nunca ganho nada…” .  E não ganha mesmo. Se a situação se repetir noutra oportunidade, o resultado será idêntico. Os exemplos são múltiplos. No serviço público, acontece reiteradamente: uma gratificação, uma vantagem, um penduricalho, um atrasado, vem para todo mundo da repartição, menos para quem tem a  moleza. Quando vai ver, alguém esqueceu de incluí-lo na lista, ou de juntar um documento. E lá se vai o pobre funcionário requerer, através dos longos caminhos burocráticos, o que todo  mundo  já  recebeu, murmurando: “Eu sou mole mesmo…” .

Como visto, a moleza causa danos, mas, não tão pesados, e alguns até reparáveis. O azar não. O azar é violento, pode até matar.  Conheci, certa feita, um cidadão de azar lendário. Na localidade em  que  morava, era costume a aposta em corridas de cavalo, popularmente conhecidas como “Prado”, no nosso Sertão. Pois, em dia de Prado, o pessoal esperava para ver em quem ele apostava. Pronto, todo mundo apostava no cavalo adversário. Era tiro e queda. Vitória certa.

Esse senhor era insistente, não perdia um Prado, para alegria dos moradores da cidade, que encontraram uma forma de ganhar dinheiro fácil. Era só apostar no cavalo contrário. Certo domingo, o cavalo em que ele apostou pesado, disparou na frente. Correu uma inquietação na platéia. Alguém gritou: “ Agora vai. Dessa vez Seu Nonato vai lavar a burra” . Faltando poucos metros para a chegada, o cavalo fraquejou das pernas e tombou,  inexplicavelmente, mortinho da Silva, e o adversário cruzou a linha, ganhando a corrida e fazendo a felicidade de todos, menos de Seu Nonato.

Para o desespero de alguns, Seu Nonato não apostava só em cavalos. Também era chegado em apostar na política local, em especial, na eleição para Prefeito. Como sempre, tiro e queda. O candidato em quem apostasse, levava uma surra de capote na eleição, por  mais que aparecesse  como favorito.

A situação era para ser levada a sério. Em determinada eleição, o candidato favorito, advogado de renome na região, benfeitor de muitos, ao se aproximar do pleito, foi procurar Seu Nonato. Pediu-lhe encarecidamente que não apostasse nele, naquela campanha. Rogou, suplicou, apelou para velhos laços de amizade. Em nome dessa amizade, Seu Nonato concordou: “Fique tranquilo doutor, não vou apostar no senhor”.

Saiu o candidato empolgado da visita. Acreditou removido o último obstáculo para chegar ao Executivo Municipal.

Apostador é  apostador. Seu Nonato até tentou se segurar. Mas, não resistiu a cantada de um  compadre seu na véspera da votação, e apostou o equivalente a uma pequena boiada na vitória do amigo advogado. Pediu reserva. De nada adiantou. No outro dia, a cidade inteira já sabia, e todo mundo correu para apostar no adversário. O resultado do pleito não surpreendeu ninguém. O candidato de Seu Nonato foi fragorosamente derrotado. A amizade, desfeita.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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